19 junho 2017

servico público

"A tragédia que se abateu sobre o país gerou perplexidade, horror e tristeza, acompanhados por um enorme volume de informação partilhada nas redes sociais. Compusemos este texto numa tentativa de ajudar a navegar essa informação e de realçar as medidas prioritárias neste momento, que consistem em prestar ajuda a vítimas e bombeiros e alertar para comportamentos de risco no plano da prevenção a incêndios. Acrescentamos, ainda, alguma informação relativa à discussão do combate aos incêndios, no plano institucional. Eis os pontos que destacamos:

1 – Neste momento, o mais importante é ajudar bombeiros e vítimas. Todos podemos contribuir para isso, fazendo donativos para as várias contas solidárias entretanto abertas, organizando pontos comunitários de recolha de produtos importantes, para posteriormente entregar os produtos nos quartéis de bombeiros, ou individualmente visitando os quartéis, para entregar os produtos solicitados.
Neste momento, os produtos mais solicitados nos quartéis são água, barras energéticas, fruta, soro fisiológico e pomadas para tratamento de queimaduras.

2 – Difundir informações relevantes para populações afectadas. Eis alguns dos números e ligações para sites que consideramos mais importantes:
• 144: Linha Nacional de Emergência Social – É o número para o qual devem ligar por motivo de necessidades de alojamento e para terem mais informação sobre postos apoio da Segurança Social no terreno.
• 236 488 060: linha de informações sobre populações afectadas em Pedrogrão Grande.
• Fogos.pt: É um site que mostra, em tempo real, a ocorrência de incêndios em Portugal.
(Site: https://fogos.pt/ | Página no Facebook: www.facebook.com/fogospt/ | Página no Twitter: @FogosPt)
• Conta solidária da Caixa Geral de Depósitos: IBAN: PT50 0035 0001 00100000 330 42

3 – Não perder tempo com discussões estéreis nas redes sociais. Apesar da dimensão desta tragédia, temos visto imensos casos de pessoas que confundem o debate e empurram a discussão para temas impensáveis. São casos como um seguidor desta página, que diz que o fogo-de-artifício não representa um problema no plano da prevenção a incêndios, ou um indivíduo que resolveu contestar a entrega de laranjas e bananas aos bombeiros, sob o pressuposto de que têm de ser descascadas, e houve até uma pessoa que chegou a dizer que esta cobertura dada ao incêndio é apenas para “abafar o caso dos emails”, referindo-se a uma polémica actual no mundo do futebol.
Não se cansem a tentar discutir com estas pessoas, é uma perda de tempo. O importante é concentrar esforços para ajudar vítimas e bombeiros.

4 – A época dos incêndios só está a começar. Com isto em mente, é fundamental promover a consciencialização entre a sociedade civil, evitando comportamentos de risco e realçando os comportamentos preventivos. Nesta época, não devemos fazer fogueiras ou queimadas em zonas florestais; não devemos lançar beatas cigarro para o chão, sobretudo em carros em andamento, lançando as beatas para zonas com vegetação; devemos evitar usar engenhos pirotécnicos, como os fogos-de-artifício, tão habituais nesta época; e devemos cuidado na utilização de máquinas em zonas florestais.
Os proprietários de terrenos florestais devem também mover todos os esforços para limpar as suas propriedades, removendo o material combustível que pode agravar os incêndios.
Com um Verão que se prevê muito quente, todos os esforços de prevenção serão cruciais para minimizar os efeitos dos incêndios que se vizinham.

5 – A discussão em volta da prevenção e combate aos incêndios é extremamente complexa e os auto-proclamados especialistas das redes sociais prejudicam-na, garantindo que têm uma solução simples para todos os problemas.
Alguns dados a ter em conta: cerca de 85% da área florestal portuguesa é privada. Os restantes 15% são propriedade pública e, desses, cerca de 2% pertence ao Estado. As medidas tomadas no âmbito da protecção florestal mexem com temas que são difíceis de conjugar, como o próprio direito à propriedade privada e os deveres que os proprietários devem ter, a articulação entre o Ministérios da Administração Interna e o Ministério da Defesa, no plano da prevenção e do combate aos incêndios, a avaliação dos meios disponíveis e o grau de prioridade que estes meios devem ter no Orçamento de Estado, o planeamento do território, etc.
É uma discussão complexa demais para ser tida de forma leviana nas redes sociais, e pessoas que não conhecem o tema, mas que já têm opinião vincada acerca do mesmo, só contribuem para prejudicar o debate público.

6 – Evitar o aproveitamento político do caso. Com mais de 60 mortos confirmados e com as investigações em curso, pessoas que tentam aproveitar os mortos para alimentar a sua agenda política são indecentes necrófagos. Apesar de todas as autoridades já terem concluído que esta tragédia resultou de uma rara combinação de factores, há publicações a circular pelas redes sociais alegando que o actual governo e a maioria parlamentar que o suporta são criminosos, defendendo que são culpados pelos incêndios e pelas mortes. Vimos até uma imagem publicada onde constam vários governantes, com a legenda “Assassinos”.
Mais uma vez, é inútil debater com este tipo de fanatismo, e todo o tempo perdido nestes debates será bem mais útil se for dedicado a prestar ajuda e a difundir informação importante para a assistência a vítimas e bombeiros.

7 – Rejeitar notícias falsas e o aproveitamento sensacionalista da tragédia. Durante esta tarde, ouvimos jornalistas que culpavam as corporações de bombeiros pelas dificuldades de assistência em certas povoações, quando é perfeitamente sabido que os bombeiros, que são verdadeiros heróis, têm trabalhado incansavelmente no combate às chamas, mas enfrentam limitações de pessoal e equipamento que os impedem de estar constantemente em todos os locais. Vimos noticiários a mostrar cadáveres. Vimos jornalistas a perguntar “Como se sente?” a pessoas que acabaram de perder tudo.
Saudamos os casos da RTP e do Público, que, por regra, têm informado com rigor e objectividade, evitando tornar a tragédia numa novela para consumo rápido.

E encerramos este texto da mesma forma como começámos: concentrem esforços naquilo que é mais importante, que é prestar assistência a vítimas e bombeiros, contribuindo para a recolha de produtos e difundindo informações relevantes.
E, lembrem-se, a época dos incêndios está apenas a começar. A prevenção deve estar sempre presente e os comportamentos de risco devem ser evitados e denunciados.
O tempo e as entidades competentes encarregar-se-ão de apurar responsabilidades e de tomar as medidas adequadas para a horrenda tragédia que assolou o país."

Uma Página Numa Rede Social

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25 abril 2017

e a banda sonora de hoje



Eu vi este povo a lutar
Para a sua exploração acabar
Sete rios de multidão
Que levavam História na mão

Sobre as águas calmas
Um vulcão de fogo
Toda a terra treme
Nas vozes deste povo

Mesmo no silêncio
Sabemos cantar
Povo por extenso
É unidade popular

Somos sete rios
Rios de certeza
Vamos lá cantando
No fragor da correnteza

Eu vi este povo a lutar
Para a sua exploração acabar
Sete rios de multidão
Que levavam História na mão

A fruta está podre
Já não se remenda
Só bem cozidinha
No lume da contenda

Nós queremos trabalho
E casa decente
E carne do talho
E pão para toda a gente

Ai, meus ricos filhos
Tantos nove meses
Saem do meu ventre
Para a pança dos burgueses

Eu vi este povo a lutar
Para a sua exploração acabar
Sete rios de multidão
Que levavam História na mão

Alça meu menino
Vê se te arrebitas
Que este peixe podre
Só é bom para os parasitas

Só a nosso mando
É que há liberdade
Vamos lá lutando
P'ra mudar a sociedade

Bandeira vermelha
Bem alevantada
Ai minha senhora
Que linda desfilada

Eu vi este povo a lutar
Para a sua exploração acabar
Sete rios de multidão
Que levavam História na mão



18 outubro 2016

[como quem arranca crostas de joelhos esfolados]


É Isto o Amor
 
Em quem pensar, agora, senão em ti? Tu, que
me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a
manhã da minha noite. É verdade que te podia
dizer: «Como é mais fácil deixar que as coisas
não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos
apenas dentro de nós próprios?» Mas ensinaste-me
a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou,
até sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor:
ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua
voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo
esse que mal corria quando por ele passámos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo
que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar: com
a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água
fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. Tu:
a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti, como
gostas de mim, até ao fim do mundo que me deste.

 
Nuno Júdice, in 'Pedro, Lembrando Inês'

tira de moebius musical

mais do que em repeat:



25 agosto 2016