03 outubro 2009

«Há, na música folk dos países do norte, uma força tranquila que impede o desespero, que mantém as pessoas de pé durante as intempéries, uma força que é impossível de ser encontrada na Europa do Sul, convertida desde sempre a uma bela e desconchavada sinusóide de festa e pranto. (...) Se o fado ou as canções napolitanas são sobretudo histórias de tumultos e arrebatamentos, histórias de faca e alguidar, de gente dilacerada pela vida, maltratada pelo amor, mas que, mesmo engaiolada no sofrimento, gosta imenso de falar, de dançar fora de horas, de vir à janela fazer caretas e de cuidar das feridas como se estas fossem tigres domésticos, muito queridos e ferozes, ou então bonsais, que são árvores completas em vasos pequenos, não sei se percebem onde quero chegar, a folk britânica ou nórdica interessa-se principalmente pelos silenciosos mecanismos do corpo, pelo combate, pelo trote dos cavalos, por essa serenidade algo incómoda e dolorosa, que também sobrevive e ronda as últimas coisas, e que está sempre lá, em qualquer final que se preze, depois das despedidas, nas ruelas às quatro da manhã, no caminho de regresso, na amurada do navio em alto mar.»


5 comentários:

Daniel disse...

Olá. Estive só uma vez na Suécia mas tenho duas boas histórias, dois pequenos episódios, ocorridos em Gotland. Um é fácil de contar e cabe aqui nesta caixa de comentários. Cá vai:
Quando cheguei à ilha, nesse verão, estava a decorrer uma festa medieval, com a grande maioria das pessoas vestidas como se estivessem na Idade Média. Visto que estava a ficar sem dinheiro, fui procurar uma caixa multibanco. Depois de serpentear por algumas ruas, lá encontrei uma que, por ser das poucas a funcionar devidamente, tinha juntado uma fila enorme de pessoas. Esta é a parte aborrecida. A parte engraçada é que todas essas pessoas ou traziam espadas e armaduras (os homens) ou corpetes, saias antiquíssimas e perucas (as mulheres). Toda essa gente, assim vestida, fazia fila para - isso mesmo - o multibanco. E alguns também falavam ao telemóvel.

purpurina disse...

já estive por lá na altura do festival medieval. é muito engraçado, e realmente há momentos em que parece que houve uma dobra no tempo. não me lembro de ver perucas.

espero que tenhas conseguido dar uma volta pelo resto da ilha, que é muito bonita. não é bem um postal da suécia, é especial.

purpurina disse...

(qual é a outra história?)

Daniel disse...

Não passei de Visby e arredores.


(a outra história só tem piada - e pouca - se contada com pormenores, mas, no fundo resume-se a esta pergunta, feita à entrada de um teatro improvisado: «Uma pessoa que não fale sueco pode perceber o espectáculo?», e depois a esta resposta: «nem os suecos vão perceber». Eu fui na mesma. Deram-me uma mantinha e como o espectáculo tinha boa música, não se esteve mal).

purpurina disse...

oh, que pena que não tivesses visto o resto.

as mantinhas são engraçadas, não são? são consequência da sede de luz que se sente por aqui assim que o inverno começa. tem de se aguentar o frio de qualquer maneira para aproveitar todo o sol possível.