recambiada para o topo do mundo - onde sobram árvores, lagos e escuridão -, tendo a deixar-me ir e confiar que qualquer grande mudança pela qual eventualmente o mundo passe acabará por me encontrar mais cedo ou mais tarde. meses de clausura seguidos por consumo frenético de jornais, revistas e demais parvoíces do género confirmaram-me já há algum tempo aquilo de que suspeitava: a maior parte do que se perde é barulho que não interessa a ninguém.
embora não faça grande esforço por me manter actualizada, isto não significa que faça o esforço contrário e feche os sentidos ao mundo. vou passando os olhos pelas gordas nos sítios de alguns jornais, pratico um pouquinho de sueco nos diários que se distribuem por karlstad e que acabam por decorar os assentos do autocarro (durante algum tempo ainda tentei o telejornal, mas depressa percebi que a seguir ao segundo cabecear já não estava a aproveitar nada e mais valia poupar o pescoço e ir para a cama), leio com mais ou menos atenção alguns blogues que aceitam espionagem do bicho rss.
nestes últimos deparo-me por vezes com uma convergência de interesses que alguns certamente considerariam cósmica (constou-me que aquela aldrabice d'
o segredo também varreu terras lusas) e que eu prefiro atribuir à magia internética
*. ultimamente o prato do dia tem sido a particupação portuguesa nos jogos olímpicos. ficaria encantada se toda esta discussão se tivesse gerado em relação ao país anfitrião, mas não. o grande problema não é a violação dos direitos humanos de milhões de pessoas em terras mais a leste, nem sequer a barracada da cerimónia de abertura e o que ela poderá indicar. o grande problema são as desculpas dos atletas portugueses quando não alcançam as medalhas que os grandes atletas de sofá já viam no horizonte - os mesmos atletas de sofá que já haviam de certo afiado a língua e treinado ao espelho aquele
toma! de punho fechado a atingir com firmeza a palma da mão aberta ou mesmo, se as mais secretas esperanças (quase certezas) se confirmassem, um valente manguito a tudo e todos.
ah!, afinal somos grandes.goradas as expectativas, viram-se todos para os malvados dos atletas. aqueles mesmos que momentos após verem escapar-se em segundos as razões para dezenas de horas de treinos semanais, vidas sociais arruinadas, relatórios médicos medonhos antecipando velhice dolorosa e outras delícias do género, não conseguem esconder a desorientação e arranjar uma desculpa que seja de jeito. sim, porque uma desculpa todos querem. querem é que seja de jeito.
esgotadas as acusações aos atletas, apenas resta lamentar a triste sina, e mergulhar sem pudor no choradinho do país miserável em que vivemos! que nem nos jogos olímpicos. que ninguém vale um chavo. que até os atletas se esquivam. que só neste país. que grande par de estalos.
há poucas coisas que me arrancam reacção mais forte do que a moda d'
o meu país é o pior de todos. é tão irracional quanto a d'
o meu país é o melhor de todos, e creio que talvez ainda mais perigosa porque apela à inércia e ao cruzar de braços que o
senhor do manguito tão bem caracteriza(va).
que se desenganem todos: os nossos atletas não são mais (ou menos?) do que os outros, nem sequer nas desculpas. o choradinho não é moda exclusiva portuga; não detemos
patente. para chatear, vai aqui mais abaixo um recorte do metro sueco, correio dos leitores, de hoje:
tradução (muito) caseira:
atletas de topo escudam-se de responsabilidades na tv
inocentes. nós os suecos somos os mais inocentes/sem culpa/inimputáveis do mundo. se alguém não ganha nos jogos olímpicos a culpa é de outra coisa qualquer, seja lesões, doenças, os outros atletas ou os juízes. se choramos a culpa é dos meios de comunicação. os atletas têm sempre milhares de desculpas, como se vê na tv. admitir responsabilidade e reconhecer a fraca prestação e a superioridade dos vencedores não é cá com os suecos.
* esta da magia é engraçada,
mas fica para depois se me lembrar.