20 dezembro 2011

neste natal escreva uma carta ao primeiro-ministro

uma destas. muitas.


[Exmo Senhor Primeiro Ministro

Começo por me apresentar, uma vez que estou certa que nunca ouviu falar de mim. Chamo-me Myriam. Myriam Zaluar é o meu nome "de guerra". Basilio é o apelido pelo qual me conhecem os meus amigos mais antigos e também os que, não sendo amigos, se lembram de mim em anos mais recuados.

Nasci em França, porque o meu pai teve de deixar o seu país aos 20 e poucos anos. Fê-lo porque se recusou a combater numa guerra contra a qual se erguia. Fê-lo porque se recusou a continuar num país onde não havia liberdade de dizer, de fazer, de pensar, de crescer. Estou feliz por o meu pai ter emigrado, porque se não o tivesse feito, eu não estaria aqui. Nasci em França, porque a minha mãe teve de deixar o seu país aos 19 anos. Fê-lo porque não tinha hipóteses de estudar e desenvolver o seu potencial no país onde nasceu. Foi para França estudar e trabalhar e estou feliz por tê-lo feito, pois se assim não fosse eu não estaria aqui. Estou feliz por os meus pais terem emigrado, caso contrário nunca se teriam conhecido e eu não estaria aqui. Não tenho porém a ingenuidade de pensar que foi fácil para eles sair do país onde nasceram. Durante anos o meu pai não pôde entrar no seu país, pois se o fizesse seria preso. A minha mãe não pôde despedir-se de pessoas que amava porque viveu sempre longe delas. Mais tarde, o 25 de Abril abriu as portas ao regresso do meu pai e viemos todos para o país que era o dele e que passou a ser o nosso. Viemos para viver, sonhar e crescer.

Cresci. Na escola, distingui-me dos demais. Fui rebelde e nem sempre uma menina exemplar mas entrei na faculdade com 17 anos e com a melhor média daquele ano: 17,6. Naquela altura, só havia três cursos em Portugal onde era mais dificil entrar do que no meu. Não quero com isto dizer que era uma super-estudante, longe disso. Baldei-me a algumas aulas, deixei cadeiras para trás, saí, curti, namorei, vivi intensamente, mas mesmo assim licenciei-me com 23 anos. Durante a licenciatura dei explicações, fiz traduções, escrevi textos para rádio, coleccionei estágios, desperdicei algumas oportunidades, aproveitei outras, aprendi muito, esqueci-me de muito do que tinha aprendido.

Cresci. Conquistei o meu primeiro emprego sozinha. Trabalhei. Ganhei a vida. Despedi-me. Conquistei outro emprego, mais uma vez sem ajudas. Trabalhei mais. Saí de casa dos meus pais. Paguei o meu primeiro carro, a minha primeira viagem, a minha primeira renda. Fiquei efectiva. Tornei-me personna non grata no meu local de trabalho. "És provavelmente aquela que melhor escreve e que mais produz aqui dentro." - disseram-me - "Mas tenho de te mandar embora porque te ris demasiado alto na redacção". Fiquei.

Aos 27 anos conheci a prateleira. Tive o meu primeiro filho. Aos 28 anos conheci o desemprego. "Não há-de ser nada, pensei. Sou jovem, tenho um bom curriculo, arranjarei trabalho num instante". Não arranjei. Aos 29 anos conheci a precariedade. Desde então nunca deixei de trabalhar mas nunca mais conheci outra coisa que não fosse a precariedade. Aos 37 anos, idade com que o senhor se licenciou, tinha eu dois filhos, 15 anos de licenciatura, 15 de carteira profissional de jornalista e carreira 'congelada'. Tinha também 18 anos de experiência profissional como jornalista, tradutora e professora, vários cursos, um CAP caducado, domínio total de três línguas, duas das quais como "nativa". Tinha como ordenado 'fixo' 485 euros x 7 meses por ano. Tinha iniciado um mestrado que tive depois de suspender pois foi preciso escolher entre trabalhar para pagar as contas ou para completar o curso. O meu dia, senhor primeiro ministro, só tinha 24 horas...

Cresci mais. Aos 38 anos conheci o mobbying. Conheci as insónias noites a fio. Conheci o medo do amanhã. Conheci, pela vigésima vez, a passagem de bestial a besta. Conheci o desespero. Conheci - felizmente! - também outras pessoas que partilhavam comigo a revolta. Percebi que não estava só. Percebi que a culpa não era minha. Cresci. Conheci-me melhor. Percebi que tinha valor.

Senhor primeiro-ministro, vou poupá-lo a mais pormenores sobre a minha vida. Tenho a dizer-lhe o seguinte: faço hoje 42 anos. Sou doutoranda e investigadora da Universidade do Minho. Os meus pais, que deviam estar a reformar-se, depois de uma vida dedicada à investigação, ao ensino, ao crescimento deste país e das suas filhas e netos, os meus pais, que deviam estar a comprar uma casinha na praia para conhecerem algum descanso e descontracção, continuam a trabalhar e estão a assegurar aos meus filhos aquilo que eu não posso. Material escolar. Roupa. Sapatos. Dinheiro de bolso. Lazeres. Actividades extra-escolares. Quanto a mim, tenho actualmente como ordenado fixo 405 euros X 7 meses por ano. Sim, leu bem, senhor primeiro-ministro. A universidade na qual lecciono há 16 anos conseguiu mais uma vez reduzir-me o ordenado. Todo o trabalho que arranjo é extra e a recibos verdes. Não sou independente, senhor primeiro ministro. Sempre que tenho extras tenho de contar com apoios familiares para que os meus filhos não fiquem sozinhos em casa. Tenho uma dívida de mais de cinco anos à Segurança Social que, por sua vez, deveria ter fornecido um dossier ao Tribunal de Família e Menores há mais de três a fim que os meus filhos possam receber a pensão de alimentos a que têm direito pois sou mãe solteira. Até hoje, não o fez.

Tenho a dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: nunca fui administradora de coisa nenhuma e o salário mais elevado que auferi até hoje não chegava aos mil euros. Isto foi ainda no tempo dos escudos, na altura em que eu enchia o depósito do meu renault clio com cinco contos e ia jantar fora e acampar todos os fins-de-semana. Talvez isso fosse viver acima das minhas possibilidades. Talvez as duas viagens que fiz a Cabo-Verde e ao Brasil e que paguei com o dinheiro que ganhei com o meu trabalho tivessem sido luxos. Talvez o carro de 12 anos que conduzo e que me custou 2 mil euros a pronto pagamento seja um excesso, mas sabe, senhor primeiro-ministro, por mais que faça e refaça as contas, e por mais que a gasolina teime em aumentar, continua a sair-me mais em conta andar neste carro do que de transportes públicos. Talvez a casa que comprei e que devo ao banco tenha sido uma inconsciência mas na altura saía mais barato do que arrendar uma, sabe, senhor primeiro-ministro. Mesmo assim nunca me passou pela cabeça emigrar...

Mas hoje, senhor primeiro-ministro, hoje passa. Hoje faço 42 anos e tenho a dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: Tenho mais habilitações literárias que o senhor. Tenho mais experiência profissional que o senhor. Escrevo e falo português melhor do que o senhor. Falo inglês melhor que o senhor. Francês então nem se fale. Não falo alemão mas duvido que o senhor fale e também não vejo, sinceramente, a utilidade de saber tal língua. Em compensação falo castelhano melhor do que o senhor. Mas como o senhor é o primeiro-ministro e dá tão bons conselhos aos seus governados, quero pedir-lhe um conselho, apesar de não ter votado em si. Agora que penso emigrar, que me aconselha a fazer em relação aos meus dois filhos, que nasceram em Portugal e têm cá todas as suas referências? Devo arrancá-los do seu país, separá-los da família, dos amigos, de tudo aquilo que conhecem e amam? E, já agora, que lhes devo dizer? Que devo responder ao meu filho de 14 anos quando me pergunta que caminho seguir nos estudos? Que vale a pena seguir os seus interesses e aptidões, como os meus pais me disseram a mim? Ou que mais vale enveredar já por outra via (já agora diga-me qual, senhor primeiro-ministro) para que não se torne também ele um excedentário no seu próprio país? Ou, ainda, que venha comigo para Angola ou para o Brasil por que ali será com certeza muito mais valorizado e feliz do que no seu país, um país que deveria dar-lhe as melhores condições para crescer pois ele é um dos seus melhores - e cada vez mais raros - valores: um ser humano em formação.

Bom, esta carta que, estou praticamente certa, o senhor não irá ler já vai longa. Quero apenas dizer-lhe o seguinte, senhor primeiro-ministro: aos 42 anos já dei muito mais a este país do que o senhor. Já trabalhei mais, esforcei-me mais, lutei mais e não tenho qualquer dúvida de que sofri muito mais. Ganhei, claro, infinitamente menos. Para ser mais exacta o meu IRS do ano passado foi de 4 mil euros. Sim, leu bem, senhor primeiro-ministro. No ano passado ganhei 4 mil euros. Deve ser das minhas baixas qualificações. Da minha preguiça. Da minha incapacidade. Do meu excedentarismo. Portanto, é o seguinte, senhor primeiro-ministro: emigre você, senhor primeiro-ministro. E leve consigo os seus ministros. O da mota. O da fala lenta. O que veio do estrangeiro. E o resto da maralha. Leve-os, senhor primeiro-ministro, para longe. Olhe, leve-os para o Deserto do Sahara. Pode ser que os outros dois aprendam alguma coisa sobre acordos de pesca.

Com o mais elevado desprezo e desconsideração, desejo-lhe, ainda assim, feliz natal OU feliz ano novo à sua escolha, senhor primeiro-ministro.

E como eu sou aqui sem dúvida o elo mais fraco, adeus.

Myriam Zaluar, 19/12/2011]

19 dezembro 2011

ontem disseram-me para levar roupa quente, casacão e cachecol para portugal. assustaram-me com o frio que faz, frio de camisola de lã e casaco e dedos enregelados. não tenho roupa de inverno desde que vim para a suécia.

hoje fui ver a previsão para os dias que vou passar no meu país-maravilha:


a sério que não é verão por aí?

(eu sei que vou morrer de frio na mesma, morro sempre. são as saudades que se me entranham nos ossos)

16 dezembro 2011

ando pelo norte há demasiado tempo xiv

já não sei o que é andar com os fundilhos das collants nos joelhos.

15 dezembro 2011

o filme de animação deste natal


(carregar no link do vídeo vale a pena)
dica daqui

14 dezembro 2011

gente mal-nutrida com mamas [até me ria se isto não desse tanta vontade de gritar]

quanto ao menino que posa como menina, acho alguma piada. talvez tenhamos chegado àquele ponto extremo que obriga a mudanças. gente que bate uma a olhar para sacos de ossos com mamas de silicone é muito triste,  mas confesso que sinto uma risadazinha diabólica a formar-se quando penso  na quantidade de meninos iludidos que o poderão fazer com o tal anúncio do rapaz que miraculosamente ganha mamas com o novo push-up. a imagem de mulher sensual com que os meios publicitários nos bombardeiam a todas as alturas está tão delirantemente longe da realidade que já não bastam meninas pré-adolescentes subnutridas e têm de recorrer a meninos imberbes nas campanhas.

portugal connosco

porque é que isto não aparece no site dos ctt? acho parvo.

12 dezembro 2011

fiquei com um sorriso parvo




(roubei não sei onde, mas estou eternamente agradecida. a sério que estou)

isto faz-me lembrar alguma coisa


09 dezembro 2011

tropecei-me toda a primeira vez que dei pelo anúncio deste ano



coisas curiosas

"Têm um curso superior 16,7% da população. O Centro, Algarve e Norte estão quase ao mesmo nível, com 10% de licenciados. No extremo oposto estão os Açores, com apenas 8,4% da população com licenciatura."

interessante como dos valores 16,7%, 10% e 8,4% se chega a "quase ao mesmo nível" e "extremo oposto" no neste bocadinho de texto aqui mais acima. tsc tsc tsc

o português que me foge

hoje, duma assentada, aprendi estas palavras novas todas:

nanja
asserto (assim mesmo, com ss, que percebi de imediato mas que não sabia existir)
lídimo
franduna
vezo

ora vão aprender.

07 dezembro 2011

jullängtan




Saw a man in a bar with his hair like a lady
Bloody thorns ’round his ears like he was a crazy
He had holes in his hands and a cross for a spine
Crushed a berry in his Perrier and called it wine
He said, “There’s great sadness in life, but don’t sit there and blub:
Here’s some tickets for your friends to the Jesus Stag Night Club!”
I can’t remember where I was last night
Think I was hanging naked off a church spire
Tied by my ankles to a weathervane
Felt like I was Jesus on fire
Cuffed to the bumper of a big truck
I begged my dad (?) to take me to a strip bar
Drank kerosene slammers through my eyeballs
Drove myself home in a stolen car
Turn a bird upside down and it lies in your fingers like a dead man
When you throw it in the air it’s resurrected from your hand
We went to a motel, he showed me his Bible
I said, “Tell me the truth,” while he looked me in the eyeball
He said, “There’s great happiness in life but don’t just sit there in love:
Here’s some tickets for your friends to the Jesus Stag Night Club!”
I can’t remember where I was last night
Think I was getting on a night bus
Lyin’ on the laps of my good friends
Judas Priest and Lazarus
I’m getting married in the big bad morning
But it feels like I’m giving birth
I feel so happy I could scream
“This is my last few seconds on Earth”
Saw a man in the street lying on the floor beaten up
He had a fish finger sandwich and a yellow M coffee cup
I bent down drunk and tried to pick him up
But when I turned around I could see…it was Jesus…
I can’t remember where I was last night
Think I was hanging on a church spire
Tied by my ankles to a weathervane
Felt like I was Jesus on fire
Cuffed to the bumper of a big truck
I begged my dad to take me to a strip bar
Drank kerosene slammers through my eyeballs
Drove myself home in a stolen car
I can’t remember where I was last night
Think I was getting on a night bus
Lyin’ on the laps of my good friends
Judas Priest and Lazarus
I’m getting married in the big bad morning
But it feels like I’m giving birth
I feel so happy I could scream
“This is my last few seconds on Earth!”

na segunda-feira tirei as luvas do armário pela primeira vez, mas só as usei durante uns segundos. o gorro continua guardado. o sobretudo de inverno (aka edredão-ambulante) começa agora a substituir o casaco de feltro vermelho. admito que já o tinha usado 2 vezes, mas foram momentos de fraqueza ou loucura momentânea que paguei caro com suor escorrendo pela testa. só ontem troquei as socas pelas botas. hoje, finalmente!, cai uma poeirazinha de neve que se derrete quase imediatamente assim que toca o mundo. estamos no natal e nunca mais é inverno.

02 dezembro 2011

há uma lisboa que é cada vez menos minha e eu morro de saudades

«(...) mete[u] a mão e conseguiu estragar a única zona de lisboa que continuva genuína, onde os copos eram baratos e a música sempre a abrir. na porta ao lado, uma esplanada onde uma loira platinada, casaco de peles vestido, pinta os lábios. devolvam-me as ruas com as putas gordas, de lycra justa e banhas a saltar pelo cós, as putas mal fodidas, desconjuntadas, sem dentes. no americano a música está demasiado alta, mas é tão bom, a companhia, não a música, que ninguém se importa de estar aos berros para se fazer ouvir. e o cansaço da semana, de carregar o mundo às costas há demasiado tempo, pede mais cerveja e muitos passos de dança. o tóquio parece uma matiné dançante para as mulheres da ala geriátrica e gozamos com elas, mas há a hipótese de aquelas sermos nós daqui a 30 anos, nós sem saber envelhecer, mas não, aquilo é mau demais. o que interessa são as músicas do costume e o pensamento de que só me faltava ter-te ali para te levar para casa. danço até passar da hora, mas agora no novo cais do sodré já não se cumprem horários e a janis já não se cala quando batem as quatro. preciso de dormir, dormir um mês inteiro de preferência, e saio para o frio e para o cais que conheço, os bêbados aos caídos, os putos mal vestidos, as putas nas esquinas, a rua sem um centímetro de espaço livre. na cabeça um apito interminável e uma névoa de álcool. amanhã vou estar de ressaca.»

01 dezembro 2011

uma coisa parva que me diverte

é chegar à universidade a estas lindas horas e armar-me em ninja para ver se engano os sensores que ligam as luzes dos corredores enquanto vou buscar café.

hoje preguei um susto à senhora da limpeza quando emergi das trevas.

30 novembro 2011

ando pelo norte há demasiado tempo xiii

mesa para as 18h é jantar e não lanche.

ando pelo norte há demasiado tempo xii

no supermercado, ponho as coisas na passadeira com os códigos de barras bem-comportadinhos virados para o sensor. ainda não cheguei ao extremo de pôr tudo em fila indiana porque continuo a achar um desperdício de espaço, mas mais uns mesinhos e talvez lá chegue.

word


(já não sei onde roubei isto. desculpe, sim?)

[suspiro]

17 novembro 2011

da estupidez

está tudo explicadinho aqui.

vou-me contendo

mas cada dia traz mais merda.

16 novembro 2011

histórias de crianças

uns colegas daqui do departamento contaram-me estas histórias bonitas que se passaram com os filhos e não me quero esquecer delas:

a meio de uma viagem de carro, a filha de 7 anos vira-se para o pai e diz-lhe:   
-olha, pai! estás a ver aquele cruzamento ali ao fundo? é o futuro.


enquanto a curiosidade das crianças não esmorece, explicar coisas complicadas é mais fácil. como a gravidade a miúdos de 3 ou 4 anos: 
 - caiu-te o gelado ao chão? é a gravidade, filho. sabes, tudo no mundo está sempre a cair.
 - não é nada! os balões sobem.

14 novembro 2011

(carlas e constanças? a sério?)

dói-me tudo

dói-me isto e isto e isto e mais uma data de istos que me enchem a cabeça e apertam cá dentro, tanto que dois comprimidos pretos daquela raiz de acalmar só me chegam para duas horas de sono. tal como a ela, estas ideias parecem-me cada vez mais bonitas.

se é assim a tantos mil quilómetros de distância, como será para quem está por aí, no sítio mais bonito do mundo?

08 novembro 2011

coisas que aprendo com o tempo

o melhor remédio contra a insónia é um despertador.

07 novembro 2011

27 outubro 2011

ando pelo norte há demasiado tempo xi

e de batatas cozidas.

ando pelo norte há demasiado tempo x

reparei no outro dia que gosto de salmão.

[correcção: afinal continuo a não gostar de salmão - só do (bem) fumado, como o do sítio ali de cima. hoje ao almoço ia despejando bolo alimentar no prato, mesmo em frente a um sô professor aqui do grupo e outra gente importante.]

ando pelo norte há demasiado tempo ix

há sempre gelado no meu congelador e cogumelos secos no meu armário.

ando pelo norte há demasiado tempo viii

ah, hum e [ar a ser inspirado pela boca rapidamente] são variantes perfeitamente aceitáveis para sim.

ando pelo norte há demasiado tempo vii

gosto de abraçar os meus amigos e acho aquela coisa dos beijinhos estranha.

ontem achei piada

a isto. e sei de alguém que me vai dizer que não desenvolve. [suspiro]

21 outubro 2011

papel químico

«E eu quero brincar às escondidas contigo e dar-te as minhas roupas e dizer que gosto dos teus sapatos e sentar-me nos degraus enquanto tu tomas banho e massajar o teu pescoço e beijar-te os pés e segurar na tua mão e ir comer uma refeição e não me importar se tu comes a minha comida e encontrar-me contigo no Rudy e falar sobre o dia e passar à máquina as tuas cartas e carregar as tuas caixas e rir da tua paranóia e dar-te cassetes que tu não ouves e ver filmes óptimos ver filmes horríveis e queixar-me da rádio e tirar-te fotografias a dormir e levantar-me para te ir buscar café e brioches e folhados e ir ao Florent beber café à meia-noite e tu a roubares-me os cigarros e a nunca conseguir achar sequer um fósforo e falar-te sobre o programa da televisão que vi na noite anterior e levar-te ao oftalmologista e não rir das tuas piadas e querer-te de manhã mas deixar-te dormir um bocado e beijar-te as costas e tocar na tua pele e dizer quanto gosto do teu cabelo dos teus olhos dos teus lábios do teu pescoço dos teus peitos do teu rabo do teu ________ e sentar-me nos degraus a fumar até o teu vizinho chegar a casa e se sentar nos degraus a fumar até tu chegares a casa e preocupar-me quando estás atrasada e ficar surpreendido quando chegas cedo e dar-te girassóis e ir à tua festa e dançar até ficar todo negro e pedir desculpa quando estou errado e ficar feliz quando me desculpas e olhar para as tuas fotografias e desejar ter-te conhecido desde sempre e ouvir a tua voz no meu ouvido e sentir a tua pele na minha pele e ficar assustado quando estás zangada e um dos teus olhos vermelho e o outro azul e o teu cabelo para a esquerda e o teu rosto para oriente e dizer-te que és lindíssima e abraçar-te quando estás ansiosa e amparar-te quando estás magoada e querer-te quando te cheiro e ofender-te quando te toco e choramingar quando estou ao pé de ti e choramingar quando não estou e babar-me para o teu peito e cobrir-te à noite e ficar frio quando me tiras o cobertor e quente quando não o fazes e derreter-me quando sorris e desintegrar-me quando te ris e não compreender porque é que pensas que eu te estou a deixar quando eu não te estou a deixar e pensar como é que tu podes achar que eu alguma vez te podia deixar e pensar quem tu és mas aceitar-te na mesma e contar-te sobre o rapaz da floresta encantada de árvores-anjo que voou por cima do oceano porque te amava e escrever-te poemas e pensar porque é que tu não acreditas em mim e ter um sentimento tão profundo que para ele não existem palavras e querer comprar-te um gatinho do qual teria ciúmes porque teria mais atenção que eu e atrasar-te na cama quando tens de ir e chorar como um bebé quando finalmente vais e ver-me livre das baratas e comprar-te prendas que tu não queres e levá-las de volta outra vez e pedir-te em casamento e tu dizeres não outra vez mas eu continuar a pedir-te porque embora tu penses que eu não estou a falar a sério eu estou mesmo a falar a sério desde a primeira vez que te pedi e vaguear pela cidade pensando que ela está vazia sem ti e querer aquilo que queres e achar que me estou a perder mas saber que estou seguro contigo e contar-te o pior que há em mim e tentar dar-te o meu melhor porque não mereces menos e responder às tuas perguntas quando deveria não o fazer e dizer-te a verdade quando na verdade não o quero e tentar ser honesto porque sei que preferes assim e pensar que acabou tudo mas ficar agarrado a apenas mais dez minutos antes de me atirares para fora da tua vida e esquecer-me de quem eu sou e tentar chegar mais perto de ti porque é maravilhoso aprender a conhecer-te e vale bem o esforço e falar mau alemão contigo e pior ainda em hebreu e fazer amor contigo às três da manhã e de alguma maneira de alguma maneira de alguma maneira transmitir algum do esmagador, imortal, irresistível, incondicional, abrangente, preenchedor, desafiante, contínuo e infindável amor que tenho por ti.»

crave, sarah kane
¤

17 outubro 2011

desde quinta-feira passada que me sinto ligeiramente tonta. não encontro chão debaixo dos pés e a linha do horizonte vai ondulando ondulando ondulando. visto daqui, sábado foi uma desilusão. somos umas crianças.

14 outubro 2011

coração fraco

tenho isto aberto num separador desde manhãzinha e ainda não consegui ler tudo. é que me dá uns nervos...

06 outubro 2011

«A sensação que se tem ao ver os nossos economistas e políticos a discursar é a mesma de ouvir um cirurgião do século XVI a sentenciar muito calmamente que, devido aos Humores e aos Fluxos, será preciso aplicar sanguessugas a alguém que está a morrer de uma hemorragia – e, se isso falhar, é porque o paciente devia ter feito uma dieta rigorosa ou um voto de castidade.»

03 outubro 2011

ando pelo norte há demasiado tempo vi

tenho pelo menos uma faca de manteiga em madeira. e estou a considerar comprar outra.

ando pelo norte há demasiado tempo v

tenho uma montanha de sapatos à entrada e se depois de me calçar e antes de sair tiver de dar dois passos fora do tapete para buscar a chave/telemóvel/mala/o-que-for-que-me-tenha-esquecido sinto-me vagamente nauseada.

ando pelo norte há demasiado tempo iv

nem sem uma lâmpada por cima do lava-loiças.

ando pelo norte há demasiado tempo iii

já não sobrevivo sem forno eléctrico.

ando pelo norte há demasiado tempo ii

no sábado passado, enquanto passeávamos por entre barraquinhas de comida da região numa feira de gastronomia minúscula que organizaram por cá, virei-me para a ida e perguntei-lhe: do you know the difference between turkish and greekish yogurt?

ando pelo norte há demasiado tempo

falta-me um ano por cá e depois de ler isto e mais isto não resisto a começar uma listinha só minha de coisas suecas que já se entranharam em mim. vou acrescentando à medida que me lembrar e talvez lá para o fim compile uma lista - como esta. vão dar uma vista de olhos, se quiserem tentar adivinhar o que irá aparecer por aqui. há coisas que são tal e qual (e apetece-me acrescentar aqui um infelizmente, mas também há muitos felizmentes). ah!, e dou por inaugurada a promeira etiqueta do blogue.

02 outubro 2011


listener

(seria um bocadinho demais roubar o título também, não? mas eu queria...
i lost my friend to sadness)

quero

01 outubro 2011

enganada

era suposto hoje ser o último dia de sol e calor antes do susto que aí vem para a semana, mas afinal está frio e nevoento. acho mal.

apetites

e agora quero ler o resto. nunca me tinha apetecido antes.

30 setembro 2011

prémios ig nobel

dos vencedores deste ano destaco os do prémio de matemática:

«MATHEMATICS PRIZE: Dorothy Martin of the USA (who predicted the world would end in 1954), Pat Robertson of the USA (who predicted the world would end in 1982), Elizabeth Clare Prophet of the USA (who predicted the world would end in 1990), Lee Jang Rim of KOREA (who predicted the world would end in 1992), Credonia Mwerinde of UGANDA (who predicted the world would end in 1999), and Harold Camping of the USA (who predicted the world would end on September 6, 1994 and later predicted that the world will end on October 21, 2011), for teaching the world to be careful when making mathematical assumptions and calculations.»


e o do prémio de literatura:

«LITERATURE PRIZE: John Perry of Stanford University, USA, for his Theory of Structured Procrastination, which says: To be a high achiever, always work on something important, using it as a way to avoid doing something that's even more important. »

este último explica muita coisa e é capaz de me ajudar nos próximos meses. a sério, carreguem lá nas letrinhas azuladas da frase anterior.

21 setembro 2011

«(...) ela conta os lugares vazios, desenha o sulco da carótida escorrendo dos vidros (não te mexas).»

20 setembro 2011

29 agosto 2011

hoje mostraram-me isto

"de los relatos bíblicos rescato a eva. es una figura maravillosa, es lo mejor de la biblia. una figura literaria, la primera que se enfrenta con dios y arriesga todo por el conocimiento, debería ser la madrina de los científicos."

26 agosto 2011

27 julho 2011

(e alguém sabe o que é que aconteceu ao verão? é que ainda não o vi por cá e preciso mesmo de o encontrar)
(estou de férias mas não estou de férias embora esteja de férias)


por causa disto lembrei-me.

14 julho 2011



eu tenho uma mente muito suja, graçazadeus.

cuidados a ter

há uma data de anos, mas não tantos que a idade me possa desculpar os devaneios, eu fazia colecção de alfinetes. não era bem colecção. tinham-me contado um provérbio inglês que dizia que encontrar um alfinete dava sorte para dia, mas que deitá-lo fora traria azar para o resto da vida. acho que isto era porque antes do madeinchina e afins alfinetes eram coisas finas (repararam no trocadilho giro?), difíceis de fazer e por isso caras. acho até que a determinada altura a fortuna de algumas senhoras da sociedade era medida em alfinetes - sou capaz de ter sonhado isto, mas não interessa. o que é facto é que me fartava de encontrar alfinetes por aí. no metro, na calçada, no alcatrão quente do verão. nunca percebi como, será que andavam fadas-costureirinhas a espalhá-los pelo mundo, como quem semeia felicidade? era uma coisa chata, porque não os podia deitar fora e tentar o destino, mas nunca soube bem o que fazer com eles. acabaram por adornar dobras de malas e mochilas e assim, onde os guardava. ainda tenho marcas de ferrugem espalhadas pelos sacos.

outra coisa que eu fazia era obcecar com os relógios digitais. estava sempre a apanhar horas especiais como 12:12, 15:51, 00:00.

entretanto deixei-me destas coisas. os meus passeios já não me levam alfinetes e os relógios só me contam de atrasos e esquecimentos.

não sei se foram os alfinetes que desapareceram ou se fui eu que deixei de os conseguir ver, como quem deixa de acreditar em seres mágicos e no fim da guerra e da fome no mundo. as minhas horas também deixaram de ser especiais, e ainda me pergunto de vez em quando se fui eu que deixei de cuidar delas como devia ou se esgotei a minha quota de instantes esquisitos.

há coisas das quais se tem de cuidar ou desaparecem.

13 julho 2011

[suspiro]



acordas todas as manhãs com um aperto no peito
não consegues comer, engoles o café, apanhas o autocarro para o trabalho
horas longas e chatas, tarefas sem sentido
ninguém se toca, olhares vazios
conversas ocas e risos falsos
mas habituas-te
habituas-te

e o trabalho que fazes não te diz nada
são outros que se aproveitam dele
e nem sabes quem são
mudas papéis de sítio, puxas as alavancas certas
ganhas o teu
e é parvo e idiota
mas habituas-te
habituas-te

quando chegas a casa à noite
vês que te esqueceste de fechar a janela
e está a janela cheia de porcaria, gases de tubos de escape enchem a sala
esqueceste-te de comprar comida
mas nem sequer tens vontade de comer, obrigas-te a engolir um pedaço de pão
habituas-te
habituas-te

tomas umas aspirinas por causa da cabeça que lateja, estupidificas em frente à televisão
o vizinho vai à casa-de-banho e os canos lamentam-se
estás cansado e vais deitar-te
e o vizinho discute com a mulher, e o tráfico não pára
é impossível dormir
mas habituas-te
habituas-te

os lençóis asfixiam-te e ficam molhados do suor
e as horas nocturnas são como elásticos
enquanto esperas pelo sono
toca o despertador
foda-se, que dor, nem vontade de te lavar tens
bebes o café frio de ontem
e lá fora está frio e escuro e húmido e enevoado
mas habituas-te
habituas-te

mesmo assim sexta-feira chega, e embebedas-te completamente
e no sábado vais até ao jardim, dás-te ao luxo de uma pizza
e à noite chega o choro
é bom abandonares-te ao desespero
finalmente sentes-te real
compras pornografia na máquina
vais para casa e masturbas-te
e é indescritivelmente triste
mas habituas-te
tens de te habituar.


qualquer dia melhoro a tradução, hoje não consigo mais.


08 julho 2011

pergunta

como é que se condensam 2 semanas de trabalho em 4 dias?

(resposta: desliga-se o cabo de rede)

07 julho 2011

a crise, do ponto de vista dos teclados

sempre achei mau sinal os teclados não terem o símbolo do euro lá no cantinho inferior direito da tecla 5.

06 julho 2011

coisas parvas na suécia

só podes marcar consultas no centro de saúde por telefone - falas com uma enfermeira (ou enfermeiro ou o que for) que avalia o caso e decide se vale a pena ver-te ao vivo. se achar que sim fazes-lhe uma visitinha e daí podes ou não ser reencaminhado para um médico (ou médica. isto está a cansar-me). só se pode ligar entre as 8:00 e as 9:30 e entre as 13:00 e as 14:30. a cena gira é que há semanas (meses?) que há um aviso na página do centro de saúde acerca dum erro no sistema telefónico que eles usam - mesmo não estando ninguém em espera, aparece-te um senhor que diz que a fila está cheia e que deves tentar mais tarde. e desliga-te a chamada. ligas de novo e é igual. de novo e é igual. de novo igual. denovoigual. denovoigual. denov... é bonito.

ando nisto há 3 semanas. já liguei para o centro de apoio e falei com a gente de lá. já liguei para um número de emergência e falei com uma enfermeira de lá. tente outra vez. vá tentando. tente mais tarde. hoje fui à recepção do centro de saúde e fiz a chamada enquanto estava no átrio da entrada. sempre a mesma conversa. blabla fila cheia blabla tente mais tarde plim!

explica-se a situação na recepção e a resposta é (surpresa) tente outra vez, vá tentando, tente mais tarde, eu aqui não posso fazer nada. e pergunto: como é que andam com este problema há tanto tempo e a vossa única solução é esta? não há alternativa? eu não estou praqui a morrer (espero), mas isto é ridículo. pois. tente outra vez, vá tentando, tente mais tarde, eu aqui não posso fazer nada.

estalo.

04 julho 2011

embirrações

esta coisa da crise e tal só me dá problemas. de um momento para outro as coisas "em conta" ou "económicas" passaram a pulular pela rede e volta e meia aparecem-me em textos sem razão aparente. é só porque está na moda ser-se poupadinho. e eu até acho bem! aliás, consigo ser muito forreta - a parte de não ter muito dinheiro ou perspectivas de emprego daqui a 13 meses ajuda. agora, agradecia era que não reduzissem tudo o que é tema a economias e em contas. são expressões muito feias e fazem-me estremecer da mesma maneira que unhas em quadros de ardósia dão cabo dos nervos a muita gente.

(humm, li isto aqui há dias. uma coisa mais a sério, que comigo a embirração de momento é só estética)
acho isto muito perigoso.

27 junho 2011

23 junho 2011

se não fosse o longe eu ia

truque

pãezinhos para cachorros-quentes disfarçam-se bem de pão de leite.

[faltam 21 dias]
it's like he wants to own me from the inside out.

ahaha!

quero ser assim

At noon on a spring day in Paris some years ago, an old motor truck broke down in the center of the Place de l’Opéra, requiring the driver to spend a half hour under it to make the repair. After apologizing for the trouble he had caused the policemen who had been directing the traffic around him, the truckman drove away — to collect several thousand dollars from friends who had bet that he could not lie on his back for 30 minutes at the busiest hour in the middle of the busiest street in Paris. He was Horace De Vere Cole, England’s celebrated practical joker.

Collier’s, 1948

daqui

21 junho 2011

apontamento

tenho o café numa caneca da tieto.com

a minha vida é muito triste

isto anda de tal forma que eu ontem dei por mim a ver a bachelorette (i.e. a solteirona) só porque se lembraram de passear a moça e os 5 pretendentes por portugal. lisboa, óbidos, sintra e um sítio não identificado algures no alentejo. ficaram no pestana palace e tiveram direito a jantar sozinhinhos no palácio da pena. luxo. acho que ainda vislumbrei as luzes do aeródromo lá muito ao longe - quase como ir num pulinho a casa, o chato foi ninguém ter ido à porta.

sol, céu azul, tudo perfeito, mas claro que na altura da eliminação tinha de estar escuro e a chover, para a moça não fazer figura de vilã e poder despedir-se a escorrer água e remorso. diogo, foste tu?

20 junho 2011

roubado

«Na tradição política portuguesa há três tipos de esquerda: as que são muito de esquerda e querem fazer a revolução, as que só são um bocadinho de esquerda e consideram governar em parceria e as que já não são de esquerda. Ah, claro, disparate, estas não contam.

Na tradição política portuguesa há portanto dois tipos de esquerda: as que são muito de esquerda e querem fazer a revolução e as que só são um bocadinho de esquerda e consideram governar. Mas, no caso destas últimas, não só não se nota qualquer avanço neste sentido como Daniel Oliveira escreveu no Expresso que ninguém deve governar se não tiver experiência de governo, o que claramente explicita que governar é coisa para gente do centro-direita, e com currículo. Resulta portanto que este tipo não só não conta como não existe.

Logo, na tradição política portuguesa há apenas um tipo de esquerda: a que quer fazer uma revolução. No entanto, olhando bem para eles, nenhum dos partidos de esquerda portugueses quer fazer uma revolução. Levam o determinismo histórico muito a sério e assumem a preparação para a revolução um pouco como a preparação para o juízo final - vamos mantendo a alma pura e depois logo se vê. Pelo que estes também não contam.

Com tudo isto ando a sentir-me um pouco orfã. O que vale é que, pelo menos nos romances de cordel, a orfandade é meio caminho andado para uma história de amor escaldante. Venha ela.»

14 junho 2011

toque

«(...) Há tempos tive de falar com um rapaz de 11 ½ anos, que preocupava a família. Os rapazes de 11 ½ são hoje, vinte anos depois, o equivalente do Adrian Mole quando tinha 13 ½. Este tinha revelado um conjunto de pequenos desajustamentos sociais que foram desvalorizados, até que se percebeu que uma má nota a Português fora devida a não ter respondido à alínea de composição, cotada em 6 vals. Mais precisamente, ele respondera. O tema era: “Qual foi a melhor coisa que te aconteceu nas férias?” E ele escreveu:- Não me lembro. A professora alarmou-se e chamou a família, que tinha tentado organizar umas excitantes férias juvenis. Acharam que tinha chegado a hora do rapaz falar com alguém que percebesse se havia algo de errado. Falámos então, durante algum tempo. Geralmente, em contextos formais, não tenho dificuldade em falar com os rapazes. As raparigas são , em regra, mais inteligentes e sofisticadas. Os rapazes são tímidos e broncos numa primeira abordagem. Mas depois, sobretudo aos 11 ½, são o género humano no que ele tem de melhor- uma mistura bruta de sentimentos confusos, uma possibilidade de êxito. Falamos de raparigas. É um tema que me é vedado, dado trabalhar e viver entre mulheres. Os rapazes de 11 ½ sabem tanto de raparigas como eu. Entendemo-nos. Podíamos falar do drama do universo ser finito ou infinito, de ser a crença na igualdade que separa a esquerda da direita, do gato de Shroendinger. Falamos de mulheres, ou de raparigas, que são os seres mais parecidos com as mulheres. É o tipo de assunto em que, apesar da diferença de idades e estatutos, rapidamente nos revelamos ignorantes e especialistas. Este rapaz começou por não se mostrar muito entusiasmado. –Ó , as raparigas! - julgo que foi o que exclamou. Como quem diz”Ó, a física quântica” ou “Ó , o Sporting”. Mas depois animou-se. Disse-me que havia na turma um rapaz particularmente atrevido com as raparigas, capaz de , nas palavras dele, lhes pedir o telefone nos primeiros contactos.- E tu, não gostava de ser capaz?- interrompi-o. Ele sorriu, primeiro para dentro e depois para fora, fez uma pausa e depois disse-me, como se tivesse percebido naquele preciso momento: - O problema é se elas me davam.»

09 junho 2011

(parêntesis)

alguém me explica porque é que este desgraçado é sempre referido como "gê pê simões"? deve ser mania dele, duvido que toda a gente da rádio seja burra. aquilo é um JOTA! um gê é isto: G. será que nunca ninguém lhe disse?

23 maio 2011

falta-me um pouco mais dum mês e meio aqui antes das férias, mas este fim-de-semana tive (finalmente) tempo para não fazer nada. foi um bocadinho estranho não ter de andar a inventar tarefas urgentíssimas para me esquivar ao trabalho - senti uma espécie de vazio cá dentro. lembrei-me então de esvaziar os meus armários (que são dois e muitos pequenos) e começar a seleccionar roupa. tira do monte, veste, despe, atira para outro monte. foi engraçado porque a minha casa só tem um quarto com uma grande janela que dá para um jardim (com vista para o lago se me inclinar um bocadinho na varanda, olhó luxo!) onde gente passeia cães e putos e eu já estou assuecada o suficiente para não me preocupar em fechar cortinas e tal. e os suecos não olham. enfim, acabei com 15 quilos de roupa que já não me serve ou que eu já não uso a encher-me a mala de viagem e 8 quilos de livros já seleccionados para levar de volta. não se nota diferença nenhuma nos armários e na estante. isto daqui a um ano e pouco vai ser giro, vai.

22 maio 2011

acerca de feriados

há coisas engraçadas que se encontram em agendas de 2011. muito engraçadas mesmo.

- portugal:
1. 01/01
2. 08/03
3. 21/04*
4. 22/04
5. 24/04
6. 25/04
7. 01/05
8. 10/06
9. 13/06*
10. 23/06
11. 15/08
12. 05/10
13. 01/11
14. 01/12
15. 08/12
16. 24/12*
17. 25/12

- suécia:
1. 01/01
2. 05/01*
3. 06/01
4. 21/04*
5. 22/04
6. 24/04
7. 25/04
8. 01/05
9. 02/06
10. 06/06
11. 12/06
12. 24/06*
13. 25/06
14. 04/11*
15. 05/11
16. 25/12
17. 26/12
18. 27/12
(por aqui, muitas vésperas de feriados são dias vermelhos, i.e. tolerâncias de ponto para o dia inteiro ou para a tarde. também têm umas coisas engraçadas chamadas dias entalados. alguém adivinha?)


- alemanha:
1. 01/01
2. 06/01*
3. 22/04
4. 24/04
5. 25/04
6. 01/05
7. 02/06
8. 12/06
9. 13/06
10. 23/06*
11. 15/08*
12. 03/10
13. 31/10*
14. 01/11*
15. 16/11*
16. 24/12*
17. 25/12
18. 26/12
19. 31/12*

cof cof.
*feriados regionais ou especiais ou coisa assim.


darwin deez

you are a radar detector you are a radar detector you are a radar detector you are a radar detector you are a rad

20 maio 2011

se eu alguma vez tiver uma pessoa pequena vou fazer-lhe um gorro assim

"we are outsourcing our brains to the cloud"


vão ler, que é giro.
(já não sei onde roubei isto... QED)

acerca de férias*

até aos 29 anos: 28 dias úteis;
a partir dos 30 anos: 31 dias úteis;
a partir dos 40 anos: 35 dias úteis.

por isso é que a suécia está como está. mandriões.


* isto aqui na universidade, não sei se é igual para toda a gente.

18 maio 2011

ando a precisar dum destes

faz lembrar as mensagens-modelo que vêm gravadas nos telemóveis. no meu, para além das típicas "estou atrasado", "estou em reunião", "vejo-o às" e outras que tais (tudo para meninos, meninas não precisam), vem um "também te amo". é bonito.

eu ando a trabalhar numa tese, mas o processo é o mesmo

"Conheço muita gente que anda a trabalhar num romance. Eu, por exemplo, ando a trabalhar num romance, que é um pouco diferente de escrever um romance. Trabalhar num romance confunde-se com a actividade geral da existência. Bebo um café e estou, de algum modo, a trabalhar no romance. Sento-me no autocarro e estou a trabalhar no romance. Fico a olhar melancolicamente pela janela do escritório e estou, mesmo assim, a trabalhar no romance. O romance, esse, não avança, tanto é o trabalho com que o sobrecarrego. Permanece em estado de crisálida, eterna possibilidade onde cabe tudo e não entra nada. É então que encontro outros que, como eu, andam a trabalhar num romance. Resumem intrigas, esboçam personagens no ar, prevêem glórias futuras, prémios Saramago, comendas, capas do suplemento do Expresso. Da crítica esperam que seja justa; dos leitores, que sejam milhares (mulheres novas em idade fértil, sobretudo); dos pares, a invejazinha fatal. Quanto ao romance, há-de aparecer, um dia."

(mas eu imagino desgraças, não glórias. e milhares de leitores, mulheres novas em idade fértil ou não, seria mau sinal)

11 maio 2011

última coisinha acerca da eurovisão (acho que estou obcecada)

ontem disseram-me que houve quem fosse à televisão lamentar a nossa participação na eurovisão este ano. antigos participantes. a sério? e quando se levou isto aqui abaixo, não disseram nada porquê? eu nem queria pôr aqui esta miséria, mas agora sinto-me obrigada a isso.



foi em 2006, quando os lordi finlandeses ganharam. continuo a achar que nesse ano a melhor canção foi esta:



hehe...

10 maio 2011

já foi

acho que me sinto até um pouquinho aliviada por portugal não ter passado à final da eurovisão, sempre me safo de ouvir o resto das canções (óóóviamente que estou a dizer isto com um piquinho de ressabiamento na voz). duma coisa me apercebi: estou realmente a leste nesta coisa de avaliar canções de festivais da canção. acho que todas as canções de que disse mal, aqui e na privacidade dos meus 32 metros quadrados, passaram à final. é bom, para ver se eu aprendo a ficar calada.

só uma notazinha final: os comentadores suecos acabaram a noite a dizer "pedimos desculpa pelos problemas técnicos. devido a não-sei-quê que os alemães fizeram os comentadores não conseguiram comunicar com os seus países. tivemos de comentar pelo telefone. e a conta, claro, vai ser a alemanha a pagar." não foi dito como piada.


(ai, a canção grega... alguém importante tem um filho que acha que é rapper)


já agora, eu posso dizer merda porque não sou paga para isto. e os suecos gostaram...

os comentadores suecos são uma nódoa

eu toda contente porque devido a não-sei-quê que os alemães fizeram (suecos dixit) não se ouviam os comentários daqui da casa, e afinal lembraram-se que existem telefones e começaram a comentar as coisas por telefone mesmo a tempo de dizerem umas barbaridadezinhas em directo acerca da canção portuguesa. tristes.
olha, está a dar a canção sérvia. ninguém os avisou que tem de ser uma música original?
tenho o aparelho do demo ligado na svt1, onde está a passar a eurovisão. não sei o que é que os alemães fizeram ao som, mas parece que está tudo no bar de karaoke ali da esquina. só a senhora da albânia conseguiu alguma coisa parecida com música e foi quando se pôs aos gritos. estou com um bocadinho de medo por causa da moça intelectual d'os homens da luta - ela até na versão de estúdio nos dá cabo dos ouvidos. por outro lado, talvez nem me aguente até à 16ª canção. inocente que sou, nunca pensei que isto estivesse tão mal. tantos países e não se aproveita nada?

mais uma coisinha: ó senhores da eurovisão*, e que tal não transmitirem aquele bater de coração entre as canções? que medo.



*saiu-me eurocisão! talvez não devesse ter ememdado.

outro olha

espreitei as fotos do segundo ensaio geral e reparei numa coisa. o que aconteceu à cesaltina da concertina? agora está lá a outra moça que andava vestida de enfermeira a mostrar as pernas e de mamas apertadas. a mulher era a única que ainda se ajeitava com as notas de música. mas que merda é esta?


(e também me parece que o operário agora é outro)

olha, afinal não

parece que, como a suécia não participa nesta semi-final da eurovisão, não se pode votar de telefones suecos. isto faz algum sentido? o meu outro número é português, por isso também não serve.

a sério, faz algum sentido?

(mas gente em espanha e reino unido pode votar, para além dos outros 19 países que participam nesta final - o que inclui suiça. não sei se me percebem, moços e moças)

em modo esquizofrénico

03 maio 2011

(as nossas melhores canções no festival foram políticas. hehe... foi tão bom lembrar-me de ouvir a tourada outra vez! realmente é pena que a canção deste ano seja tão pobrezinha, mas diz que há uma crise)

que estalo, credo...

finalmente tive uns segundos para espreitar o pedacinho de programa da svt acerca da eurovisão em que falam de portugal (esta gente aqui é um bocado doida por estas coisas, há mini-festivais regionais e tudo antes do nacional e mais mil programinhas de análise e tal. fica tudo maluco, pior do que com o ídolos). quem se quiser aventurar com o sueco espreite entre os minutos 28 e 34, mais coisa menos coisa. não estava à espera de grande coisa, afinal a canção dos homens da luta é merda mesmo, não dá para disfarçar. mas esta gente consegue ser tão anormal! estou a borbulhar de raiva. tenho de confirmar primeiro que o meu sueco não é brilhante, mas acho que o cabrãozinho do andreas johnson (esse portento musical...) sugeriu que o nosso pedaço de península ibérica se podia despegar do resto da europa e ir atlântico fora. para além dos comentários parvos doutros comentadores de "não percebo nada, aquilo está lá na língua deles". isto de gente que tem a desfaçatez de fazer sempre duas versões das canções que leva ao festival, uma em sueco para ganhar em casa e outra para inglês perceber - coisa que acho inadmissível num programa que supostamente celebra a multiculturalidade europeia, mas afinal não sou eu quem faz as regras.*

só me consola saber que o senhor paulo de carvalho ficou em último lugar com isto aqui mais abaixo.



de qualquer forma, os homens da luta nunca me envergonharão tanto quanto a tristeza que se enviou em 2006.

*até 73 as canções a festival tinham de ser na língua do país participante. foi nesse ano que levámos isto, que ficou em 10º lugar (de 17).