14 junho 2011

toque

«(...) Há tempos tive de falar com um rapaz de 11 ½ anos, que preocupava a família. Os rapazes de 11 ½ são hoje, vinte anos depois, o equivalente do Adrian Mole quando tinha 13 ½. Este tinha revelado um conjunto de pequenos desajustamentos sociais que foram desvalorizados, até que se percebeu que uma má nota a Português fora devida a não ter respondido à alínea de composição, cotada em 6 vals. Mais precisamente, ele respondera. O tema era: “Qual foi a melhor coisa que te aconteceu nas férias?” E ele escreveu:- Não me lembro. A professora alarmou-se e chamou a família, que tinha tentado organizar umas excitantes férias juvenis. Acharam que tinha chegado a hora do rapaz falar com alguém que percebesse se havia algo de errado. Falámos então, durante algum tempo. Geralmente, em contextos formais, não tenho dificuldade em falar com os rapazes. As raparigas são , em regra, mais inteligentes e sofisticadas. Os rapazes são tímidos e broncos numa primeira abordagem. Mas depois, sobretudo aos 11 ½, são o género humano no que ele tem de melhor- uma mistura bruta de sentimentos confusos, uma possibilidade de êxito. Falamos de raparigas. É um tema que me é vedado, dado trabalhar e viver entre mulheres. Os rapazes de 11 ½ sabem tanto de raparigas como eu. Entendemo-nos. Podíamos falar do drama do universo ser finito ou infinito, de ser a crença na igualdade que separa a esquerda da direita, do gato de Shroendinger. Falamos de mulheres, ou de raparigas, que são os seres mais parecidos com as mulheres. É o tipo de assunto em que, apesar da diferença de idades e estatutos, rapidamente nos revelamos ignorantes e especialistas. Este rapaz começou por não se mostrar muito entusiasmado. –Ó , as raparigas! - julgo que foi o que exclamou. Como quem diz”Ó, a física quântica” ou “Ó , o Sporting”. Mas depois animou-se. Disse-me que havia na turma um rapaz particularmente atrevido com as raparigas, capaz de , nas palavras dele, lhes pedir o telefone nos primeiros contactos.- E tu, não gostava de ser capaz?- interrompi-o. Ele sorriu, primeiro para dentro e depois para fora, fez uma pausa e depois disse-me, como se tivesse percebido naquele preciso momento: - O problema é se elas me davam.»

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