02 dezembro 2011

há uma lisboa que é cada vez menos minha e eu morro de saudades

«(...) mete[u] a mão e conseguiu estragar a única zona de lisboa que continuva genuína, onde os copos eram baratos e a música sempre a abrir. na porta ao lado, uma esplanada onde uma loira platinada, casaco de peles vestido, pinta os lábios. devolvam-me as ruas com as putas gordas, de lycra justa e banhas a saltar pelo cós, as putas mal fodidas, desconjuntadas, sem dentes. no americano a música está demasiado alta, mas é tão bom, a companhia, não a música, que ninguém se importa de estar aos berros para se fazer ouvir. e o cansaço da semana, de carregar o mundo às costas há demasiado tempo, pede mais cerveja e muitos passos de dança. o tóquio parece uma matiné dançante para as mulheres da ala geriátrica e gozamos com elas, mas há a hipótese de aquelas sermos nós daqui a 30 anos, nós sem saber envelhecer, mas não, aquilo é mau demais. o que interessa são as músicas do costume e o pensamento de que só me faltava ter-te ali para te levar para casa. danço até passar da hora, mas agora no novo cais do sodré já não se cumprem horários e a janis já não se cala quando batem as quatro. preciso de dormir, dormir um mês inteiro de preferência, e saio para o frio e para o cais que conheço, os bêbados aos caídos, os putos mal vestidos, as putas nas esquinas, a rua sem um centímetro de espaço livre. na cabeça um apito interminável e uma névoa de álcool. amanhã vou estar de ressaca.»

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