24 outubro 2012

"Portugueses querem pagar pouco para o que exigem do Estado"

a crer numa engraçada folha de excel que recebi por mail há pouquinho, e corrigindo para o facto de neste cantinho escandinavo eu receber 12 meses por ano e não 13, com as alterações propostas nos escalões e mais o caracinhas de que se lembraram na outra semana o estado ficar-me-ia com mais 600 euros do ordenado em portugal do que fica aqui na suécia.

isto foi só para dizer que este gajo é parvo.

01 outubro 2012

ando pelo norte há demasiado tempo xviii

o homem chateia-me um bocado, mas ainda me chateia mais chamarem-lhe "íens" quando o nome dele é "iéns".

26 setembro 2012



Amou daquela vez
Como se fosse a última
Beijou sua mulher
Como se fosse a última
E cada filho seu
Como se fosse o único
E atravessou a rua
Com seu passo tímido
Subiu a construção
Como se fosse máquina
Ergueu no patamar
Quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo
Num desenho mágico
Seus olhos embotados
De cimento e lágrima
Sentou prá descansar
Como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz
Como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou
Como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou
Como se ouvisse música
E tropeçou no céu
Como se fosse um bêbado
E flutuou no ar
Como se fosse um pássaro
E se acabou no chão
Feito um pacote flácido
Agonizou no meio
Do passeio público
Morreu na contramão
Atrapalhando o tráfego...

Amou daquela vez
Como se fosse o último
Beijou sua mulher
Como se fosse a única
E cada filho seu
Como se fosse o pródigo
E atravessou a rua
Com seu passo bêbado
Subiu a construção
Como se fosse sólido
Ergueu no patamar
Quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo
Num desenho lógico
Seus olhos embotados
De cimento e tráfego
Sentou prá descansar
Como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz
Como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou
Como se fosse máquina
Dançou e gargalhou
Como se fosse o próximo
E tropeçou no céu
Como se ouvisse música
E flutuou no ar
Como se fosse sábado
E se acabou no chão
Feito um pacote tímido
Agonizou no meio
Do passeio náufrago
Morreu na contramão
Atrapalhando o público...

Amou daquela vez
Como se fosse máquina
Beijou sua mulher
Como se fosse lógico
Ergueu no patamar
Quatro paredes flácidas
Sentou prá descansar
Como se fosse um pássaro
E flutuou no ar
Como se fosse um príncipe
E se acabou no chão
Feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão
Atrapalhando o sábado...

Por esse pão prá comer
Por esse chão prá dormir
A certidão prá nascer
E a concessão prá sorrir
Por me deixar respirar
Por me deixar existir
Deus lhe pague...

Pela cachaça de graça
Que a gente tem que engolir
Pela fumaça desgraça
Que a gente tem que tossir
Pelo andaimes pingentes
Que a gente tem que cair
Deus lhe pague...

Pela mulher carpideira
Prá nos louvar e cuspir
E pelas moscas bixeiras
A nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira
Que enfim vai nos redimir
Deus lhe pague...
«this is no time to be making enemies.»

21 setembro 2012

«(...)
porque eu não acredito no trabalho, não acredito na propriedade, não acredito na polícia, não acredito nos tribunais, não acredito nas fronteiras. não acredito que, para me protegerem, possam obrigar-me a usar cinto de segurança. não acredito que, para me castigarem, tenham o direito de me enforcar. não acredito que esta terra, por ter sido povoada por certos tipos ambiciosos, lhes e me pertença. não acredito que a minha pátria seja a minha língua porque com as minhas pernas eu aprenderia outras línguas e delas faria casa. não acredito que quarenta horas empenhadas num trabalho de merda num supermercado valorize um ser humano que seja, da mesma forma que não acredito que o motivo de uma vida possa genuinamente ser a ascensão na carreira. não acredito que as fortunas conquistadas pelo suor do trabalho contenham mais mérito do que a pobreza mantida por gerações apesar do suor do trabalho. não acredito na herança, no património, no imobiliário, no self made man. 
(...)»

19 setembro 2012

não tenho tempo para isto, mas hoje deram-me o mundo e estou a descobri-lo.

03 julho 2012

a vida a doer-me

eu encolho-me um bocado quando penso nos meus anos todos no técnico, no que me custou engolir os exames que tive de repetir uma e outra vez - muitas vezes porque o medo de não chegar me impedia de abrir mão da folha de exame já escrita, borrada, reescrita, marcada pela angústia do não saber se sabia.

agora, a menos de meio ano de acabar o doutoramento longe, o medo ainda me paralisa. a certeza da perfeição não-alcançada, a dúvida do chegar ou não a martelar-me a coragem.

e depois deparo-me com isto. licenciatura-bacharelato feita num ano porque o currículo profissional foi analisado e foram tidos em conta cursos por terminar (por começar!) para atribuir créditos que a todos nós custam sangue.

foda-se.

26 junho 2012

coisas incríveis que se ouvem na suécia

"este verão as minhas férias vão ser fraquinhas, só vou tirar 4 semanas."

22 maio 2012

«I used to hear voices. For years. It started when I'd walk into my room and say hello to my Lain poster (I've always over personified objects) and eventually she started responding. Over time I could talk to her elsewhere, I'd pull her up when I was sitting in class or riding the bus, and I'd put on headphones so nobody would notice I was talking to myself since it was barely audible. Eventually Lain told me she was a god and I was too, and there were two others, but they didn't really like me so they would almost never talk to me.
A long time later, maybe years, she started being really mean, and it turned out there was another voice who was just pretending to be Lain named Misery. This one was stereotypical, everything I did was wrong and I had to pay for my actions, I should cut myself if I was ungraceful, everyone hated me, etc. Lain split again, and this time she was sisterly. When I was upset and crying myself to sleep I could feel her holding me and telling me everything would be alright. Misery looked different but could look like Lain if she wanted to fool me (although she would turn back into herself when I called her out on it), and the two Lains all looked the same, so I could only tell who they were when they started responding to me.
After a while they all just disappeared. I guess I saned up, because during the peek it never occurred to me I was hearing voices, they truly were gods who were speaking to me, and later during the time period I realized that I was hallucinating with delusions of grandeur. Then at one point I realized that there was more of me and less of them, when I pulled them up it was a conscious effort and part of their responses were forced on my part. Then eventually I just gave them up, they were so weak that it was really just like talking to myself and not to other people that lived in my head.
That's not my secret, I've mentioned it to a few very select people that I truly trust. My secret is that I miss them. I miss them with with all my heart. Even Misery. They were friends and family, they were close to me, they understood me, and they were always there for me. Now even with real friends and family, there's nobody that close. I can't just pull up someone to talk to when I'm lonely, I have to call up a real person and that person never knows what I want to talk about or what I'm hiding from them, they only know what I say. Lain (the main one) would always call me on my bullshit and make me keep changing my answer until I told her the truth. Misery could always find my biggest weaknesses, which allowed me to work on strengthening them. Sisterly Lain could calm me down in a way that's unimaginable, you can't comprehend how good it feels to be hugged by someone inside of you.
And now I feel lonelier than I have in years because I almost never think of that time or remember how it felt, but tonight I'm sitting by myself at 2am and all I can think about is how much I want a voice to talk to and it's been so long since I had one and I'd give anything to have another psychotic break so I could get back all my friends that live in my head.
I once had a psychiotic episode where I could talk to clouds and I could feel how much they loved me, the clouds, the trees, the birds, they were all my friends and they all loved me and they all wanted me to be happy. I had that feeling on mushrooms once, everything in the world loved me, every single thing, the house, the ceiling, the lamp, each blade of grass, it all loved me and it was the best feeling I have ever known, that was the best night of my life. I can't tell you how much I want to feel that again, I just have no way of tracking them down again.
Being crazy feels amazing, whether it's good or bad. Even the bad crazy where I'd stay awake all night because I knew something was going to get me in my sleep and I'd try to claw the evil out of my skin, even that's preferable to being normal because the intensity is indescribable. I miss everything about being crazy. I miss it more than I can possibly describe.»
¤

16 abril 2012

quebrar o jejum porque isto é muito importante

"Depois, que no interior há cada vez menos escolas, hospitais, centros de emprego, etc!, etc!, etc!. O interior está a fechar (alguns estarão lembrados de que até já aqui sugeri a sua privatização) e nós fazemos de conta que isso é um fenómeno natural e não uma opção política (sempre fomos bons nisto). E quando tudo isto falta a uma terra, pode sobrar-lhe ainda a Junta de Freguesia, onde às vezes vai um médico, onde há algumas atividades, onde alguém representa o Estado para o qual estas pessoas pagam tanto como qualquer lisboeta e pode responder a algumas perguntas mais simples. Nalguns sítios, a Junta de Freguesia é o último sinal de que aquele lugar não foi abandonado. E sempre que juntarem freguesias em regiões com uma geografia humana mais dispersa existem pessoas que vão perder o único serviço que ainda estava ao seu alcance.
(...)
Na democracia representativa quem não é representado não existe. Uma democracia representativa onde nem todos são representados não é democracia nenhuma. "

tudo tudo aqui

15 março 2012

typo

pessoas, o que é que lêem aqui? é que eu... [suspiro]

14 março 2012

nunca pensei conseguir encher o tempo com tanto nada.

06 março 2012


por causa desta história toda de canções que soam a outras canções, lembrei-me da katie stelmanis e agora tenho austra a passar enrepite. coisas.

05 março 2012

democratic elections produce mediocre leadership and policies

People Aren't Smart Enough for Democracy to Flourish, Scientists Say

"(...) democracies rarely or never elect the best leaders. Their advantage over dictatorships or other forms of government is merely that they "effectively prevent lower-than-average candidates from becoming leaders."


ahh...

curto-circuito ii

acontece-me o mesmo com esta:




e esta:



o que é capaz de explicar aquela série das ameaças

curto-circuito

oiço isto:






mas o que fico a trautear o resto do dia é isto:

dura de ouvido (iv)

acho que vou acabar ameaçada de morte, mas aqui vai:

isto:





é tão igual a isto:





coisas de língua

hoje fui de alternativo para opcional até chegar ao que queria: facultativo. tenho tudo rasurado. ai.

ãh?

"(...) um prato que pode traduzir igualmente uma simbiose empírica entre arroz e feijão na procura da complementaridade proteica dos seus constituintes."

24 fevereiro 2012

ando pelo norte há demasiado tempo xvii

ontem à noite, depois do jogo de hóquei, não encontrei a paragem de autocarro e decidi ir a pé até casa. foram 50 minutos, mas não fez mal porque afinal 2ºC é quente.

ando pelo norte há demasiado tempo xvi

fui a um jogo de hóquei no gelo, não perdi o disco de vista e achei toda a porrada que houve em campo perfeitamente justificada.

ando pelo norte há demasiado tempo xv

pousar o pão directamente no balcão do café é normal. e sei que quando voltar para portugal morro disto.

[adenda: isto não é nenhuma crítica enviesada ao grau de limpeza dos balcões de café portugueses. só as diferentes temperatura e humidade em portugal e na suécia devem chegar e bastar para justificar a atitude escandinava mais relaxada nestas matérias. não quero cá confusões.]

20 fevereiro 2012

16 fevereiro 2012

há quem ache que eu não posso com a suécia. a culpa é minha, nunca desmenti a coisa com a veemência que merece. digo muito mal, claro. mas eu só digo mal desta maneira do que gosto, pensei que já se soubesse isso. e ontem, ao ver aquele triste episódio (vide post anterior), senti-me mais escandinava do que europeia, mais sueca do que portuguesa.

o chato é não se encontrarem pães-de-leite de jeito por aqui. ou couve para caldo verde.

tenho a escandinávia entranhada em mim

o tanto que o meu queixo caiu ontem à noite quando vi a triste figura deste senhor na televisão!



espreitem aqui (até 10 março), entre os 35:15 min e os 51:20, para verem como mona sahlin (que quase ficou com o assento de reinfeldt há uns tempos), timbuktu (um sô artista do rap/reggae sueco), jonas gahr støre (ministro dos negócios estrangeiros norueguês) e fredrik skavlan (o apresentador) se torcem todos para não pregarem um par de estalos ao senhor enquanto tentam, infrutiferamente, transformar aquele monólogo inflamado num coisa qualquer mais parecida com uma conversa. 

o homem largou tantos insultos que é impossível falar deles todos. vejam tudo, são 16 minutos que valem a pena. para rir ou para chorar, ainda não me decidi.

14 fevereiro 2012

apunhalada

estive a imprimir calendários. o 5 de outubro e o primeiro de dezembro já não aparecem.

desconcerto

uma pessoa habitua-se a encontrar cabelos brancos. cada vez mais, e sempre nos sítios mais expostos, até já não valer a pena contá-los. começam a cair como os outros, a aparecer semeados nas camisolas de lã, já não surpreendem nem indiciam apropriações das mantas por estranhos. de vez em quando aparece um fio que é testemunho do tempo a passar pelo corpo, um fio que começou castanho e que morre nos entreténs das malhas já esbranquiçado, estranha traça da vida que ainda falta percorrer.

hoje encontrei um cabelo que de branco passou a castanho. não sei o que isto significa.

31 janeiro 2012

21 janeiro 2012

suecos

há um moço por aqui que diz que é mentira os suecos terem dificuldade em exteriorizar sentimentos - ele diz que eles não sentem. nunca o levo muito a sério, mas hoje lembrei-me disto quando entrei no edifício da faculdade.

não tem estado um inverno frio (nem sequer tem estado bem inverno...), mas nos últimos dias a temperatura baixou bastante e levantou-se um ventozinho que mata um bocado. da paragem do autocarro ao meu edifício são uns 50 m ou coisa assim e decidi não pôr as luvas. quando a porta se abriu (depois de várias tentativas desajeitadas de passar o cartão na máquina com os dedos enregelados) levei com um bafo quentinho que me corou as bochechas e me deixou realmente agradecida por não se desligar o aquecimento por estes lados. e lembrei-me duma conversa que tivemos há uns tempos aqui no departamento, durante o café.

já há mais de um ano que correm rumores acerca de um homem que dorme no edifício da faculdade. a universidade é gratuita por isso ele vai-se inscrevendo em algumas cadeiras, recebe identificação de estudante e acesso aos edifícios, mesmo durante a noite e aos fins-de-semana (entra-se quase em qualquer lado com a chave-cartão). no nosso edifício há até um quarto de descanso e um balneário para os funcionários da universidade (para quem traz a bicicleta, por exemplo, não ir a pingar suor para a sala de aula). não é aceitável que alguém more aqui, claro, e a situação deu origem a várias horas de discussão - informal e formalmente. não sei bem como foi resolvida, mas há uns tempos comentaram que agora o acesso ao balneário e ao quarto de descanso, assim como outras áreas, estava limitado e tinha de se pedir uma autorização especial. por causa do tal morador clandestino. e que era bem-feito.

perguntei se em karlstad existe alguma casa-abrigo, onde quem não tem sítio para ficar possa aquecer-se e passar a noite e ninguém me soube responder. ninguém se mostrou interessado ou sequer percebeu como é que isso seria relevante para a conversa, que entretanto seguiu por outros caminhos (hóquei, o tempo, a tira de bd do dia).. aqui morre-se na rua sem abrigo. e a falta de compaixão dos meus colegas chocou-me.


20 janeiro 2012